As portas
É segunda-feria; e meus pés arrastam-se sobre a cadeira,
é só pra disfarçar o frio, a ansiedade e a cura,
o tempo só serve pra correr, sem pés administra léguas, veloz.
assim é o dia, ou melhor, assim é a noite
minha caixa de descarga vazou, eu vou procurar um eletricista,
o taxi é suave e a calçada alisa a sola dos meus sapatos, com um furo no dedão.
dinheiro na mão, portão arregaçado, olhos vidrados no objetivo,
é só entrar e sair e a sorte me sorri
subi a escada e o corrimão me açoitou,
a chave luta com a fechadura, mas a fé vence
o quarto ainda esta frio, não há ninguém aqui pra me aquecer,
só ha a música e a vontade de escrever pra ninguém, além de mim.
sensorial me tornei segundos atrás, após o trilho correr em meu nariz
coloquei a cerveja pra gelar, me lembrei de ti,
quem sabe da vida já se foi e olha por nós,
vez que outra, massageia meus ombros
eu fui, me perdi de novo mas não me arrebentei,
rasguei dinheiro, ganhei um poema,
aqueles que sabem escrever sobre a vitória perdem a poesia do erro,
explora o galho, esquece a flor, padece na curiosidade.
quem viu o desfile de corvos cegos, varrendo o lixo
não esquece de esfregar a sujeira no tapete da porta,
sua porta maluca, de cara fechada, que se abre e fecha, o labirinto, a porta inexistente
o futuro incerto, as vezes, é bom se perder por aí
calçada firme, orelhão estragado, a última lata, líquido gelado
viagem e acordes sem distorção, é bom ouvir o jazz diariamente,
é bom ouvir o trompete, é bom viver qualquer dia.
sem lápis, só teclas, o contexto mudou e o texto termina aqui, morfinado.