O último moinho do último vento
Solado grosso de fina bota
pés delicados de unhas bem cortadas
um cantil ilimitado
Sorriso largo de um amarelo que não desbota.
Tropeça no caminho
esbarra numa felicidade pouca
Contenta-se com o intermitente
O raro instante da boa vontade.
De tão longínquo, engana o prazer
Na fantasia de infinito, faz crer
E segues crendo:
Que é para sempre e que tudo passará
Que vai ser dessa vez e que na próxima acertará
Que o passado não mais importa e que o importante voltará
Que não podes mais esperar mas que, tempo, ainda há
Assim, um dia te invade a pedra
Fisgada pela tangente no caminho
Incomodanda os pés de unhas grossas,
No solado fino da bota cortada pelo vento delicado
Com delicadeza anuncia o início da última chegada
Limpa a poeira dos olhos desprazerados ao ver o fim do infinito
Grita aos teus ouvidos o coaxar conhecido das longas pausas da boa vontade
Te seca a boca e a esperança ao tomar-te até mesmo os espaços vazios no cantil.
Carrega-te por inteiro, no fim.
Vento delicado
Assopra teus pés e te faz levitar até onde avistará
A curva insana da tua verdade absoluta.
Entenderás o quanto era curta a felicidade que te botava tonto a girar e girar.
Sentirá os "altos" e "baixos" pelos quais escolhera passar
E quando sentir a vertigem e a pressão levando-te a cabo
Em desespero, e desconsolado, escutará para além do assovio do vento delicado, com alguma dificuldade,
Persistirá.
Um sapo gordo ao teu lado, coaxando a realidade, te incomodará.
Então despertará como um palhaço chorão,
E um par de hélices, metido na testa, a girar sem a delicadeza daquele vento, que te espera em algum lugar.
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16/08/12 - de algum pote que misturou um sonho maluco, uma pitada de imaginação e 2 toneladas de sentimentos esquecidos.