O último moinho do último vento

Solado grosso de fina bota

pés delicados de unhas bem cortadas

um cantil ilimitado

Sorriso largo de um amarelo que não desbota.

Tropeça no caminho

esbarra numa felicidade pouca

Contenta-se com o intermitente

O raro instante da boa vontade.

De tão longínquo, engana o prazer

Na fantasia de infinito, faz crer

E segues crendo:

Que é para sempre e que tudo passará

Que vai ser dessa vez e que na próxima acertará

Que o passado não mais importa e que o importante voltará

Que não podes mais esperar mas que, tempo, ainda há

Assim, um dia te invade a pedra

Fisgada pela tangente no caminho

Incomodanda os pés de unhas grossas,

No solado fino da bota cortada pelo vento delicado

Com delicadeza anuncia o início da última chegada

Limpa a poeira dos olhos desprazerados ao ver o fim do infinito

Grita aos teus ouvidos o coaxar conhecido das longas pausas da boa vontade

Te seca a boca e a esperança ao tomar-te até mesmo os espaços vazios no cantil.

Carrega-te por inteiro, no fim.

Vento delicado

Assopra teus pés e te faz levitar até onde avistará

A curva insana da tua verdade absoluta.

Entenderás o quanto era curta a felicidade que te botava tonto a girar e girar.

Sentirá os "altos" e "baixos" pelos quais escolhera passar

E quando sentir a vertigem e a pressão levando-te a cabo

Em desespero, e desconsolado, escutará para além do assovio do vento delicado, com alguma dificuldade,

Persistirá.

Um sapo gordo ao teu lado, coaxando a realidade, te incomodará.

Então despertará como um palhaço chorão,

E um par de hélices, metido na testa, a girar sem a delicadeza daquele vento, que te espera em algum lugar.

&*

16/08/12 - de algum pote que misturou um sonho maluco, uma pitada de imaginação e 2 toneladas de sentimentos esquecidos.

Elis Maria
Enviado por Elis Maria em 20/05/2014
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