Cena de Mar e Aldeia

Luciana Carrero

Pescador alucinado

em pescaria inzoneira

vê sua fêmea encantada

numa rotunda baleia

e em vez de trazer o peixe

deixa o corpo na onda vaga

ao sucumbir desvairado

numa miragem sereia

Sereia é seu brando vento

Tange nota merencórea

no esfregaço à corda isenta

do stradivarius do alento

O corpo deixado ao mar

pescador é lua cheia

voltando à noite penada

para assombrar sua aldeia

Cabocla desesperada

chora o destino do homem

que dava o dela sustento

Ouve triste a madrugada

no ganir do lobisomem

Bebe sal mágoas de tempos

quando o mar fustiga a praia

Lambadas de desalento!