[Das Cores da Vida]
Naquela venda de paredes azuladas,
depois de um longo dia branco,
e já no estertor da tarde vermelha,
alguns homens de vida cinzenta
sentam-se a uma mesa de forro verde,
sustentada por grossos pés marrons.
E neste instante, o dono da venda
solta um grito de ódio vermelho
para enxotar o cão preto que lambia
as cusparadas no cimento ocre.
Jogam-se ali as cartas
do jogo do tempo amarelo,
o inexorável tempo sem nexo da vida sépia,
tempo de línguas de veneno verde
que retalham em tiras vermelhas
o sem nexo das vidas de tristezas de chumbo.
A um canto do balcão,
um menino de olhos castanhos
não sabe ainda que esta cena
em breve será uma foto amarela
gravada em sua memória
para eclodir nos seus dias cinza,
quando os seus cabelos
estarão enluarados de prata...
[Repito o ditado do poeta:
cedo na vida, eu adivinhei o velho em mim]
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[Desterro, 19 de agosto de 2012]