A Voz das Minhas Mãos

Pede-me moderação a mão destra

Como se possível fosse emudecer

Os gestos que anseiam o toque

Dedilhado pelos caminhos da escrita

Quando são os versos precipício e refúgio

A canhestra emoção entorna dos dedos

Ignorando a vigília do comedimento

Ou a calma que me indica a ponderação

A palavra em mim é sempre exposta

Inquieta e nua, engolindo silêncios

Tenho na ponta dos dedos

O lado de dentro do peito

O verso e anverso do que não sei

Meu viés e reverso confessos

Sou de dizeres fartos e incontidos

Que se lançam impulsivos no papel

No abismo de linhas desconhecidas

Minha caligrafia não acalenta brisas

Descobre-se e sabe-se em ventanias

Escrevo sempre intensamente

Como se a última palavra fosse

E na voz de cada letra

Balbuciasse o derradeiro suspiro

Fernanda Guimarães

www.fernandaguimaraes.com.br

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 06/09/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T48103