VIA LÁCTEA PAULISTANA
Sigo de perto os rastros dessa Lua,
Meio minguante,
Fatia de ornamento em céu oriental,
Companheira das tintas de Magritte
Entre arranha-céus semiapagados.
Meu olhar deita-se em seu colo curvo
E se derrama de longe em longe
Pela via láctea paulistana.
No céu de blues
Há estrelas...
Brumosas,
Opacas,
Tímidas,
Pálidas,
Melindrosas,
Asmáticas,
Heroínas do século romântico.
Incertas como incertas são as vias da vida,
Raras como raras são certas mulheres,
Sonâmbulas como ilusões
Que interrompem o sono,
Ou o aconchegam e berçam.
Estrelas como borboletas
Num céu de negro marinho.
Visto uma camisola leve,
Esvoaçante como sonhos,
Finas notas de sândalo,
Abro estreita fresta na larga janela
E pinço um vão do firmamento,
Tão amplo quanto pequeno,
Onde amores estelares e lunares acontecem,
Onde a Loba-Lua uiva de paixão!
Aqui,
Num quarto desta São Paulo mágica,
Entre lâmpadas de mercúrio,
Também há estrelas...
Vivas!
Purpurinas de lácteo neón
Talham-se sobre a cama,
Luzem.
Glitter sobre a pele.
>>> Republicação de 2008, em versão modificada e revisada.
>>> Foto: T. Chen