HARPEJOS * Cantares... (10)
Eu canto, meu amigo, o tempo escuro
das raivas, das vergonhas e dos medos,
o tempo que jazia no monturo,
ferido de sevícias e degredos...
Eu canto, meu amigo, as incertezas
da noite das angústias e das dores,
as trevas que negavam as belezas
do branco que sublima as várias cores...
Eu canto, meu amigo, o canto triste
que tu conheces só de ouvir cantar,
que foi uma não-vida sempre em riste
querendo a vida em dor decapitar...
Eu canto, meu amigo, o fel da história,
para que saibas tudo sobre nós,
para que fique viva na memória
o drama dos que não tiveram voz...
Eu canto, meu amigo, o teu advento
no tempo que te damos livre e são.
Que saibas ser, agora, o nosso alento,
cantado em versos de alma e coração...
22 de fevereiro de 2005. Lisboa * Portugal
(Do livro a publicar "HARPEJOS"