O ESPELHO
O ESPELHO
J.B.Xavier
Olha atentamente o teu espelho...
O que vês?
Rugas sulcadas,
Como terra gretada onde já não chove
A doce chuva do amor?
Olhos suplicantes,
Baços por uma lágrima que não quer cair,
Mas que não pode ser contida?
O que vês?
Tua própria vida em agonia
Que tem pouco a agradecer por outro dia
Que acrescentou mais desilusões
À tua alma?
Lábios trêmulos por uma frase de amor
Que não pronunciaste?
O que vês?
Um amor que acabou?
Um gesto que não veio?
Uma luz que se apagou?
Um amigo que se foi
Um carinho que não chegou?
O que vês?
Senão a ti, colhendo a lavra
De antigas tempestades
Plantadas na inconsciência
Da alma, um dia em alegria?
Senão o leito seco
Do rio dos amores, que deixaste secar?
Não, não tentes o espelho enganar...
Ali em frente a ti,
Está alguém a te cobrar atitudes,
Enquanto te iludes
Com a imagem do sofrimento
Nas rugas de teu rosto...
Mas onde jaz um desgosto,
Coloca um sorriso...
Onde jaz uma amargura
Coloca uma esperança,
Onde jaz uma incerteza
Coloca uma promessa...
E promete a ti,
No mais profundo do teu interior
Que esse alguém
Ali no outro lado do espelho,
Da próxima vez que te encontrar,
Há de te olhar
Com ternura e com amor...
* * *