Supernova
O céu oferta-se gratuito,
É de quem primeiro o ver, reza-se.
Mas os olhos, estes, estão estragados:
O coração está sujo
A água está suja
O amor está sujo
Está sujo também o homem
E todo o mistério democrático.
O léxico arreganha-se qual uma putinha rara.
Mas na cidade só se ouve o velho,
O velho,
O velho.
A polifonia que tu amas: um zumbido.
A resistência: zumbizanzando.
O milênio incognoscível, a náusea, a burocracia, o pão.
À caneta fálica: disfunção erétil.
Ao poeta, cafetão do asco: câncer de cu.
E tu flacidamente me perguntas: e a esperança?
Ébrio, oscilo:
Serei eu anjo do cinismo ou da assassinada inocência?
Riso decadente:
Tu me beijas os lábios frios e revela:
Não és um anjo, meu bem,
És um pedaço de carne morta e podre;
E eu sou teu verme inaugural,
O único sopro que sentirás
Será o da festa anelídea que rói o teu tórax.
Já viste uma supernova?
Já viste uma supernova?
Anda, responda-me, querido.
O discurso nasce e caduca no mesmo difuso estrépito.
Morre homem, animal morredor.
Brota, flor, negra, despetalada e solitária, emerge deste cadáver colorido.