Ao futuro
Se nos dão sempre a folha suja do passado
Para que nela se reescreva nossa história...
Se nos dão respostas envoltas em soluções de vento
Para que se apague em nós nossa memória...
Se nos dão, a qualquer templo e lugar, sermões de sins
Para que os nossos nãos não tenham glória.
É preciso rabiscar de novo o velho muro
Estar armado até os dentes de futuro!
Se nos oferecem sempre, no discurso, o lado fácil
Para que achemos fácil a vida plena de obstáculos...
Se nos mostram os céus azuis e límpidos de maio
A mascarar do algoz seus dentes e tentáculos...
Se nos dizem das ideias improváveis de sucesso
Que viram a realidade em propostas de espetáculo.
É preciso rabiscar de novo o velho muro
Estar armado até os dentes de futuro!
Se nos impõem sempre a ilusão que entorpece
Para que a voz se prenda ao peito e não nos ouçam...
Se o que se nos indicam é rumo incerto
Para que, perdidos na procura, de nós se esqueçam...
Se o que nos dão por medida é sempre cerca
Que nosso caminho barre e nossos sonhos adormeçam.
É preciso rabiscar de novo o velho muro
Estar armado até os dentes de futuro!
Mas se o que nos dão por regra é o fim sem luta
Para que nossa força só sirva ao prepotente...
Mas se essa força enfim transmute em ódio
Para que nossas rotas se refaçam no presente...
Mas se assim, enfim, braços erguidos, nos unimos
Para que se faça vitória a utopia mais latente.
É preciso rabiscar de novo o velho muro
Estar armado até os dentes de futuro!