Era Dia das Mães

Luciana Carrero

Olhos fixos no céu branco do meu quarto

Sem estrelas e lua, nuvens, vento e sol...

O silêncio e a ansiedade de uma busca

Traça rotas de torpor nas minhas vistas

Que se fundem ao concreto do meu teto

Por onde andarão os espíritos que se foram

Que se apresentam somente nos meus sonhos?

Por onde andará meu avô do corpo andarilho?

Será andarilha, também, sua alma que partiu?

Há povoações ou picadas para perambular?

E aquele homem de amor gentil, velho pai?

A mãe que morreu sufocada num suspiro breve?

E uns tios e tias, amigos, primos e conhecidos

Que embarcaram para o além em vários tempos?

Mas meu cismar se dilacera contra o reboco branco

E rompe-se o teto. Tétricos fantasmas ganem:

Eu sou teu avô, teu velho pai, teu tio e tia

E nós somos os amigos, primos e conhecidos

Trazemos também um bando de almas sofridas

Já que chamou-nos para entristecer teu dia!

As paredes derreteram como lesmas salpicadas

E uma chuva de lágrimas cobriu tudo que ruia

O mundo sacudiu e uma lama espumou no espaço

Nada... nada nas nossas lágrimas, alguém vociferou

Já que te dá tanto prazer investigar os mortos!

E me debati, e afoguei-me em tamanho sofrimento

Mas já meus gritos faziam eco no corredor branco

Tudo era branco naquele ambiente de pequenas celas

E já eu cantava uma canção religiosa triste de filho:

Com minha mãe estarei, na santa glória um dia!

E minha mãe chorava, acocorada em um canto

Gemendo baixinho o seu lamento em fundos ais

Eu que contara minha mãe estando no outro mundo

Falei. Não chora, minha mãe, eu estou bem, aqui!

E dormi fixando o olhar no branco céu do quarto!