A AUSÊNCIA DO VATE


Dias de desconforto,
Vento frio da ausência,
Tempos de passagem.
O quarto, a sala, a cena
Vazios de seus poemas,
Sem o oxigênio dos versos,
Asmáticos respiravam.

A Musa descalça,
Sem dote nem reino,
Sem lenço ou aceno,
Chorava a procelosa solidão

Molhado, sujo, surrado,
Qual cavalo pobre em dias de chuva,
Sem tratador, sem grama e sem feno,
Num beco da vida o Vate se encolhera.


Quem é que destino escolhe?
Jogam-se os dados sobre o pano verde,
Apostam-se a sede e a fome...
São as Três Parcas, porém,
Que tecem os fios e a rede,
Empunham tesouras,
Cortam a existência
Quando assim o entendem...


Pudessem, Vate e Musa,
Transvestirem-se em pássaros,
Voarem por sobre ondas,
Unirem-se aos zéfiros,
Terem os cuidados das Estações,
Por vezes em gaiolas de vidro,
As frágeis pretensões zeladas.

Sim. Lutaram.
Tiraram as pedras do caminho,
Amolaram a faca do dia a dia,
Aprumaram o corpo em desalinho.
A vida lhes correu à revelia.
Pediram-lhe tão pouco...


O Vate fechou-se em seu ninho.
Faltou-lhes talvez mestria...
O tempo passa, passa, pui tudo
E a Musa lhe escreve poesias
Em alvos trapos de linho.




imagem: google


Interação do poeta Péricles Alves de Pliveira ( Thor Menkent )


 
AQUARELA

Quando tudo
parecer-te perdido,
resiste à cruciante dor
da saudade

e leva ao ninho
o pássaro ausente,

onde te possas amá-lo
– silente, cândida e febrilmente –
em mãos, sonhos
e poesias.

Péricles Alves de Oliveira

 
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 10/05/2014
Reeditado em 26/05/2014
Código do texto: T4800931
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