BRAVOS

a José Bonifácio Broilo

Existem tantos e são vários

os dispersos, diversos, confundidos

de dores...

Não são poucos os que sangram

à parte do sistema.

Pois da miséria,

a saída é sempre o fim.

Vida é trabalho.

Gozo exclusivo aos que têm

E se não tens,

Pouco nos importa!

Parte mais um, na sombra

onde é lugar de gente assim:

bravo, forte, rico espírito, desgraçado

Sem ar de nobreza.

Pobreza.

Desumano vértice, inconfundível fim

Vai um, não espere o outro, tudo nosso

é rápido.

Não há mais lugar por aqui.

Tem pra três, sois mil!

É preciso crer em Jesus.

Só lhes resta a saída da esperança

Esperar que mesmo em vida desgraçada,

serão flores,

serão flores,

gozo em outro nascer

noutro lugar.

Só o céu para lhes fazer

ficar aqui, calados, sem nada

caçando o pó do pouco

que pinga por debaixo

da pia.

Anestesia para a dor

pobre da existência

é a religião.

E Jesus, cuja morte é a mesma deles,

injusta e cruel, grita a Deus,

que destrói

que precisa de sangue

“Perdoai-vos!”

Anestesia mata

os gays, mulheres, pretos

pobres e putas

Todos mulas de uma cruz

que há tempo já não

é suas.

Mundo, vasto mundo?

São grandes as dimensões

dos seus desafetos

escuros rumos que trazes consigo.

Trágicos.

Basta a cada dia o seu mal.

Por que, então, todo o dia o mesmo

fim?