No meio

No meu tempo de criança,

entre a minha casa e a escola

havia subidas e descidas,

capoeiras e riachos.

Entre uma subida e uma curva,

flores de paineira, ipê amarelo e coqueiros,

estrada de chão e caqui no coração.

Entre a escola e minha casa

havia pé de chinelo, saci-pererê,

boi sem cabeça e o lambreta.

Agora, entre minha casa e a escola

tem smartphone, semáforo e

faixa de pedestre que pedestre não vê.

Agora, com fone no ouvido,

não escuto o sábia laranjeira,

perdido entre as bananeiras.

Hoje, no meio do concreto

de concreto só ilusão.