um poema sem alma
“E eu, o que era matéria bruta minha
Do eu que se construiu nos seus olhos?”
Hoje eu acordei
Sem saber com que cor me pintar
Vesti-me com a frieza de um corpo nu
E sentei-me na varanda
Vendo a memória se esvaziar com o vento La fora
E o que restou do meu nome
Ficou nos seus lábios calados
Era apenas mais uma palavra
Que esvaziada da sua voz
Não tinha porque existir
Nada cabe nessa noite
Além de respirar um pouco fundo
E ver o outono se tornar inverno
E deixar alma congelar mais um pouco
Em sua ilha longínqua
Hoje eu acordei sem saber em que nota cantar
E se eu lhe disser qualquer coisa
É apenas pra desafiar o silencio
Tentando descobrir de onde sai a poesia
Quando a alma se vai
E sobra apenas o seu refluxo
Então eu tomo minha xícara de chá
E escrevo esse poema
Apenas pra ver se me encontro
Entre uma palavra e outra
Se por um acaso acabo escrevendo meu nome
E me descubro
Talvez amanha eu coloque um anúncio no jornal
“E eu, o que era matéria bruta minha
Do eu que construí em meus olhos?”
O amor não muda nada
Escrever um poema, também não