Bordado


Dá um ponto, e arrebenta
De repente, toda a linha...
Pega a tesoura e desmancha
E depois, o recostura...

Pede a Deus que ajude um pouco,
Pois os dedos já cansados
Se perderam nos caminhos
De um bordado desmanchado.

Uma flor daquele lado,
Um sol se pondo no pano,
O existir arremedado
De um destino de cigano...

As agulhas se cansaram,
E os dedais, já não protegem
Os seus dedos espetados:
Há sangue sobre o bordado.

Um rococó, um laçado,
Ponto-cruz que ele carrega,
O caminho alinhavado,
-Não se solta, não se entrega!

Cai no chão o pano: fado!
E a vida se encarrega
De riscar outro bordado
Com pespontos bem marcados...






 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 04/05/2014
Reeditado em 24/09/2015
Código do texto: T4793975
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