dor "minimizada"

o eufemismo com que

expresso minha dor latente

nas entrelinhas,

traz à tona

as interrogações alheias

mas ninguém sabe

ninguém viu

ninguém sentiu

e nem quererá sentir

a dor rimada

a dor redigida

a dor impregnada

a dor nada fingida

(mas esta,

ninguém nunca saberá,

de fato, quando o é/ou não)

a dor minimizada, esparramada

sobre o indefeso papel

vem sorrateiramente pela madrugada

dá-me uma beliscada

e me arranca algumas gotas salgadas

caídas de meus perecíveis olhos

três da manhã, abro meus olhos

três e cinco da manhã, sento sobre a cama

três e dez da manhã, tomo coragem e levanto

três e onze, volto a deitar

e me encolho e me cubro com lençol

a dor me pesa os ombros,

sopra um vento frio

enfraquece minhas pernas

e eu me vejo completamente indefeso

e fraco e vulnerável e medroso

e então, adormeço novamente

pois a realidade não tem sido boa

a realidade tem sido insuportável.

Daniel Matos
Enviado por Daniel Matos em 04/05/2014
Código do texto: T4793832
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