dor "minimizada"
o eufemismo com que
expresso minha dor latente
nas entrelinhas,
traz à tona
as interrogações alheias
mas ninguém sabe
ninguém viu
ninguém sentiu
e nem quererá sentir
a dor rimada
a dor redigida
a dor impregnada
a dor nada fingida
(mas esta,
ninguém nunca saberá,
de fato, quando o é/ou não)
a dor minimizada, esparramada
sobre o indefeso papel
vem sorrateiramente pela madrugada
dá-me uma beliscada
e me arranca algumas gotas salgadas
caídas de meus perecíveis olhos
três da manhã, abro meus olhos
três e cinco da manhã, sento sobre a cama
três e dez da manhã, tomo coragem e levanto
três e onze, volto a deitar
e me encolho e me cubro com lençol
a dor me pesa os ombros,
sopra um vento frio
enfraquece minhas pernas
e eu me vejo completamente indefeso
e fraco e vulnerável e medroso
e então, adormeço novamente
pois a realidade não tem sido boa
a realidade tem sido insuportável.