Desviver
Consideram-me vulgar por ter mãos de masoquista
que talham o corpo trêmulo de dores e anseios?
Por ver a vida em meio à sina de dominatrix
que vive de riscos e apelos e pedaços de giz?
Não há quem não sinta paz
em ver a carne entreaberta
sorrindo da maneira que apraz:
às vezes rubra, às vezes incerta.
Não há quem não sinta paz
em ver a vida numa linha reta.
Sem todos os meus exageros
seria simples viver nesse desviver;
seria bom não crescer contra o vento &
adormecer com os olhos sangrando um amanhecer.