A chama do amor

Estranho enigma é o amor, esse gostar

De alguém, e esperar a volta, coisa talvez louca!...

Pode ser que, por isso, a gente veja sem olhar,

E diga tudo, sem abrir a boca!

Mas, há mais coisas entre o Céu e o Inferno do amor,

Do que a nossa vã ilusão pode supor...

A ilusão, o prazer (ou tortura?) do amor,

Que seja inacabável, assim espera quem ama!

E só depois do enxugar das lágrimas da dor,

Entendemos que ele apaga, porque é chama!

Mas, nesses momentos, há quem diga; “Quero paz,

Não quero mais sofrer. Amar nunca mais!”

Eu também muitas juras assim fiz,

E não entendia por quê, encalhada nau da desilusão,

Ficava por tanto tempo tão infeliz,

Para depois, por uns olhos, um sorriso, o coração

De novo se incendiar, quebrar juras, e enfrentar,

Já nau confiante, a perigosa travessia do amar!

O amor é chama! Que não se apague jamais,

Sonha você agora, tendo n’alma um amor-acalanto!

Mas o sopro do desengano que a apaga, não faz

Inútil a tua vida, nem dela tira o encanto!

Uma chama se apaga, outra reacende. É doce

O fruto da ilusão. Ai de nós se assim não fosse!

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 08/05/2007
Reeditado em 21/01/2009
Código do texto: T479245
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