A chama do amor
Estranho enigma é o amor, esse gostar
De alguém, e esperar a volta, coisa talvez louca!...
Pode ser que, por isso, a gente veja sem olhar,
E diga tudo, sem abrir a boca!
Mas, há mais coisas entre o Céu e o Inferno do amor,
Do que a nossa vã ilusão pode supor...
A ilusão, o prazer (ou tortura?) do amor,
Que seja inacabável, assim espera quem ama!
E só depois do enxugar das lágrimas da dor,
Entendemos que ele apaga, porque é chama!
Mas, nesses momentos, há quem diga; “Quero paz,
Não quero mais sofrer. Amar nunca mais!”
Eu também muitas juras assim fiz,
E não entendia por quê, encalhada nau da desilusão,
Ficava por tanto tempo tão infeliz,
Para depois, por uns olhos, um sorriso, o coração
De novo se incendiar, quebrar juras, e enfrentar,
Já nau confiante, a perigosa travessia do amar!
O amor é chama! Que não se apague jamais,
Sonha você agora, tendo n’alma um amor-acalanto!
Mas o sopro do desengano que a apaga, não faz
Inútil a tua vida, nem dela tira o encanto!
Uma chama se apaga, outra reacende. É doce
O fruto da ilusão. Ai de nós se assim não fosse!