Tragédia
Em meu primeiro choro
A morte já me espera
Para levar de volta
Ao pó minha matéria
Pra transformar
Minha existência
Em inexistência
E reduzir meu ser
A simples bactéria.
O mal percorre o mundo
Enquanto a terra dorme
Está em mil lugares
E em lugar algum
Vem disfarçado
E parece todos os homens
Sem o disfarce
Não parece homem nenhum...
A escuridão impera
E eu vou cortando a noite
De medo eu paraliso
A cada nova esquina...
Mais um menino morto
Mais um pai, quem sabe,
Mais uma mãe que morre
Ali, outra menina...
Meus dias já contados
A história foi escrita
No grande livro
Que pertence ao Criador
Não sei ao certo
Se será rápida ou lenta
Se será instantânea
Ou gritarei de dor...
De um beco escuro
De um lugar sem nome
Surge em minha frente
Meu cruel algoz
Tentei correr
E as pernas não obedeceram
Tentei lutar
Mas os músculos enrijeceram
Tentei gritar
Mas já não tinha voz...
Seis horas da manhã
Meu corpo empoeirado
No asfalto frio
Continua repousado
Minha alma vaga
Sem saber pra onde ir...
Sou só mais um
Fui só mais um
E a vida segue
Minha família
O rastro do algoz persegue
Mas a justiça
E cega, surda, muda e fraca
Um dia a vida
Preencheu-me por completo
E a mesma vida
Ainda não sei por que, ao certo,
Fugiu de mim
Na lâmina de uma faca...