Carta de adeus
Doce menina, minha amada
Já faz tempo que eu não te escrevo
Faz algum tempo que selei meu coração.
Busco nos confins de minh’alma a chave
Vasculho todo esse conturbado ser.
Minhas mãos fraquejam neste instante
Tremem, ao desenhar essas palavras
Há pouco olhei para aquela janela
Avessa no banheiro, avistei um homem
Um homem embaçado
Quase sem reflexo algum.
Triste homem embaçado!
Triste homem sem reflexo!
Doce menina, minha amada
Já não sei onde estou
Nem o que guardara pra te dizer
Já viste um furacão de perto?
É só olhar dentro dos meus olhos
Lá no fundo, lá nas alcovas
Está tudo completamente revirado.
E minhas mãos continuam tremendo
Mãe, faz elas pararem de tremer!
Sou apenas um menino!
Um menino, só isso
Um menino que foi obrigado a crescer.
Doce menina, minha amada
Queria falar de você
Queria falar de nós
Mas não estou conseguindo
Não enquanto houver o eu
Em meio a um turbilhão
Um turbilhão de ideias, imagens,
Sons, vozes, sussurros aos ouvidos.
O ontem, o hoje e o amanhã
Todos se confundem aqui dentro agora.
Doce menina, tu lembras?
Que lhe disse que eu não tinha medo?
Descobri que tenho.
Não do que me vai acontecer
Eu tenho medo de ter medo.
Ai meu Deus! Eu só queria era
Ser feliz, meu amor!
Mas não a custo de um sofrimento.
Um duro sofrimento alheio.
Doce menina, minha amada
Lembre-se de como eu fui
E não de como eu estou
Ou de como eu estarei.
Lembrei o que guardara para ti
Um beijo, um abraço e um
Adeus.
É isso que escrevo...
Porra! Minhas mãos não param, de tremer!