Vulto

VULTO

Que me importa o martírio

Se durmo solitário sobre pedras?

Que me importa a morte

Se meu nome é dilúvio

Que se afoga sobre a sede das multidões?

Que venha o sol alimentar as pastos

E soerguer a vida nas campinas...

Que venha a chuva apagar o holocausto

Que bronzeia os corpos mefíticos

Atolados no lamaçal das carnificinas...

Que me importa a lua

Se a noite é penumbra sem sombra?

Que me importa o orvalho

Se a sobrevivência do homem está em coma

E se o pão que sacia a fome

Apodreceu no inóspito deserto?

Que venham as preces nutrir a esperança

Que adormeceu no mausoléu do vício...

Que se ergam doutrinas e púlpitos

Porque a palavra tornou-se desperdício

E o amor que vivia entocado hoje é vulto!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 30/04/2014
Código do texto: T4789406
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