A BÊNÇÃO, SENHOR DI BACCO!

Observo, entre o espanto e o fôlego,

a silhueta da mulher quase menina,

desabrochada de semideusa.

Ela nada quis além de um cálice,

um gole (sôfrego!) no sangue da terra.

Dadivosa bênção das uvas,

o seu mistério secular.

Tez morena, varinha mágica da música.

Arfam os seios, rutilam os olhos.

Volúpia nos quadris, o samba fazendo alma.

Apenas um cálice... Cale-se!

Passos ritmados, o estandarte doido.

O corpo. Ao diabo as penas do corpo!

Tamborilam todas as fibras.

Expiram os últimos anjos.

Valei-me, Gabriel,

que a minha espada é flamejante!

- Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre, Alcance, 2005, p.28.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/47880