O meu poema sujo
Um pretexto
Pretenso poema sujo
escrito de outro jeito
Não como Ferreira pariu
Não como a puta em um beco... seu leito
Meu poema sujo é imundo
Não é a bela sujeira deixada de modo
tão satisfeito, mostrando o defeito do olho:
aquele por traz do sujeito
O sujo que o papel não limpa
O conteúdo contidos nas tripas
mal cheiroso, asqueroso, fétido
O meu poema sujo é muito sacana
Não é a beleza do ato
de um coito por sobre a cama
Aquilo ali é bonito
mesmo com toda a sujeira
que escorre em suores, fluídos, fricções
os corpos transformando-se em lama
O meu poema sujo é nojento
cujo fedor nem eu mesmo aguento
Escrevo repugnando, nauseando
a cada verso e rima
querendo botar pra fora o café da manhã,
por conta dos sujos fonemas, a cada momento
O meu poema sujo é de causar muito asco
não se limpa com todos os desinfetantes do mundo,
nenhuma base corrosiva, nenhum ácido
É sujo por ter elemento humano
classificado como sujo
da ponta do fio do cabelo à medula
Canalha, calhorda, vil, esculhambado
Queria eu poder sujar meu poema
com terra, estrume ou vinhaça
sentir o mal cheiro de podre
Esse se corta quando a gente toma cachaça
Poema como esse é tão sujo
não há outro existente no mundo
São pragas, doleiros, gestores, corruptos
toda a sorte de gente que beira o ridículo
e fornica com o absurdo
E esse poema é grave
É sujo, sacana, repulsivo
Pois trás toda a dor que há nos atos
que praticam os nossos políticos
Esses que vendem a mãe como escrava,
aquela piniqueira que limpa a bosta dos filhos
Filhos que sujam com todos os tipos de sujeira
Que poema sujo é esse que eu fiz?
Que vomita a voz do conflito
que traduz tudo o que fazem, que fizeram, que farão
transformando o Brasil
numa imagem horrível de fim de feira
Contrário do que é para ser uma nação