Outonos
Por vezes, as profundezas do mar adentram os olhos
Como um náufrago que se deixa levar
Mas que sabe que fora àquela imensidão
Existe nalgum lugar um cais a sua espera.
A mente como um buraco negro, vácuo
Um copo vazio, imensamente cheia de todas as possibilidades.
Por vezes, um frio congelante que corta o peito
Passa por debaixo das narinas e vai entrecortando
Até às profundezas da alma
Mas também, uma fagulha do fogo que entorpece
Mostra-se de longe e vai-se achegando
E se enchendo, se inflamando.
Há que se perceber que são como as luas
Cheias e vazias.
E assim, o coração vai com o vento
Como um nômade, um cigano
Aquece nas chamas e se esfria em tempestades
Esconde-se nos abismos, ou perde-se pelos vazios
E vai navegando sozinho pelos sete mares
Enquanto caem as folhas, tantos outonos
Mas sente lá no fundo que há um porto seguro
Que o espera, nalgum lugar em qualquer mundo.