Bruma n'alma

A chuva encharca meu corpo

Enquanto minh’alma se afoga

No gole que a boca sorve

E em nome do peito advoga.

Evaporo-me no contraste

Calor-frio em mim reinante

Como a volatilizar

Alma já bruxuleante.

Agarro-me à corda qualquer

Que passante faz-se barco

No afã da salvação

Que em pensamento abarco.

Avanço à maré sem certeza

Do que me afrontarei ao largo:

Se ideais de doces deuses

Ou os demônios que já amargo.

Sigo, enfim, trôpego, o caminho

Sem sinal, bandeira ou nesga

Que mostre se é à frente ou à ré

O que enxerga a vista vesga.

Sinto-me envolto em névoa espessa

Que a estrada faz sumir

Deixando nítido, no agora,

A sensação do não devir.