MORADA
Moro nas retinas do poeta que sonha
No ardor do corpo que estremece
Na beleza da criança risonha
No cansaço que, de repente, adormece.
Moro na magia do dia que nasce
No encantamento do sol se pondo
Na esperança perdida que renasce
No medo que, aflita, escondo.
Moro nas flores que perfumam teu caminho
No vento suave que afaga tua face
Na emoção do sonho que acarinho
Na altivez que não permite que eu me amordace.
Moro nas águas do rio que te refrescam
No sagrado alimento que te sacia
Na bravura daqueles que pescam
Na alvura da pele macia.
Moro nas folhas molhadas de orvalho
No calor que afogueia o rosto
No desejo que, insana, amortalho
No espírito arrasado e recomposto.
Moro na curva da estrada bendita
No sorriso que, repentinamente, enternece
Na força daquele que acredita
Nas mãos que se unem em prece.
Moro no ar que tu respiras
Na música que nos dá saudade
Na grandeza daquilo que mais aspiras
No imenso encanto de uma amizade.
Moro em todo canto, em cada parte,
Em cada vislumbre de magia
Moro naquele que nada tem e ainda reparte
Moro em ti, pois meu nome é POESIA.
(Lígia Spengler)