E AGORA, DRUMMOND

(poesia inspirada em uma foto em que um menino de rua dorme no colo da estátua de Drummond, em Copacabana -RJ)

Você que fez versos

Talvez entenda o meu reverso,

Das chagas que carrego,

Da dor que me persegue.

Seu colo de bronze,

Seu silêncio de ferro,

Sua poesia de pedra,

Minha gula,

Meu jejum.

Você que tem um nome,

E que agora de bronze, não respira.

Minha febre,

Meu ódio...

E agora?

Sem cavalo urbano

que não pare no sinal vermelho da vida,

Sem travesseiro de plumas,

Eu marcho pela rua.

Rua não há mais que me comporte.

Com a chave na mão,

Quero abrir a porta,

Mas casa não,

Pai já não há,

Mãe já não há.

E se eu gritasse?

E se eu gemesse?

Se você tocasse

A valsa vienense, talvez me acalentasse.

Se eu dormisse,

Se eu cansasse,

Se eu morresse…

Seu colo de bronze talvez me acolhesse.

Mas você é duro, Drummond.

IVAN SANTTANA

21-03-2014

IVAN SANTANA
Enviado por IVAN SANTANA em 23/04/2014
Código do texto: T4779842
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