O mar que acabou de passar
Fiquemos em silêncio
O mar quer passar
E consigo levar
Qualquer palavra
Uma sílaba
Uma letra
Uma nota musical
Um violino quebrado
Um sapato de noiva
Uma gravata desfeita o nó
Silêncio
O mar não pode esperar
Gemem os barcos
Os cascos sofridos
A noite soturna
Escondido o luar
Para não ver
O mar passar
O sal cicatrizando as chagas
Lá atrás se levantam as vagas
O mar vai passar
Cobrir de espumas
E depois secar
O deserto
O campo aberto
É proibido
Não peque
Não se condene
Não pronuncie
A palavra
Não a impregne
Do amargo da alma
Que nem cabe no mar
Que nem cabe no deserto
Fechada a porta inventada
Onde era céu
Onde era mar
Que acabou de passar