Quando aquele dia chegar
 
Fosse eu um sujeito de muita sorte,
poderia então escolher o dia
em que o mundo sentirá a minha morte.
 
Como os meus pecados não foram tantos,
não roubei nem matei e muito amei,
haverá quem diga que eu fui um santo.
 
As mulheres que mais eu quis na vida,
sete postas de um lado, sete do outro,
num derradeiro ato de despedida

quero na procissão do meu esquife.
Contudo, alguém que de mim não goste
dirá, feliz: - Morreu mais um patife.
 
Seis amigos do peito, todos juntos,
suando nas alças do meu caixão,
dirão: - Oh! como pesa este defunto!
 
Que seja Dia de São Bartolomeu,
e um anjo, abrindo a porta, há de falar:
- Entra, menino, o Céu agora é teu. 


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N. do A. – Na ilustração, Uma Alma Sendo Levada ao Paraíso de William-Adolphe Bouguereou (França, 1825-1905).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 22/04/2014
Reeditado em 19/07/2021
Código do texto: T4778132
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