Ninguém morre melhor que eu
Que a vida se torne digna de indignação,
liberto do entusiasmo, me pasmo.
Se paro, piro, se piro pairo.
Voos libertos em mundo contrários,
afaste-se de mim, esse cálice de veneno cálido,
a face sobre mim embrenhada no molho pálido.
Não vivas assim.
Os dementes agonizam com o peso da mente,
os crentes fenecem carentes, os entes se sufocam no ventre.
Os culpados andam ocupados escondendo os corpos,
os bêbados inveterados se afogam nos copos.
Os filósofos se enforcam em palavras,
os assassinos na bala cravas.
O silencio se acaba sozinho, o falante se enforca na língua,
o inábil tem sempre a mesma sina, a vida míngua.
Que a vida se torne digna de indignação,
liberdade sem espaço é andar sem passo.
Preso a rotação, inclinação, plano orbital e polos geográficos,
a mortandade na estatística dos gráficos.
Mesmo cada um morrendo de um jeito desigual,
ninguém morre melhor que eu,
pois morrer é muito igual,
só basta saber que nasceu.