Carta para os Coríntios

Ainda que eu falasse as línguas dos gregos e romanos e não desse à Arte o seu valor,

Não haveria A, muito menos Ômega.

E ainda que eu adquirisse toda a erudição e toda a ciência

De maneira tal que deslocasse homens para o espaço e não desse à Arte o seu valor,

De nada valeria.

E ainda que eu distribuísse meus bens para toda a sociedade a ponto de me tornar um mártir e não desse à Arte o seu valor,

Que humanidade teria?

A Arte é um combate consigo mesma;

A Arte contribui para um bem;

A Arte não plagia, revisita;

Sabe ser indecente da forma certa;

A Arte não é produto mercantilista;

A Arte choca, recria o Pensamento e a Verdade.

Tudo é rima, tudo é som, tudo é tom, tudo é ação.

A Arte nunca falha,

Mas havendo comércio, será aniquilada;

Havendo fábricas, cessará;

Havendo mídia, desaparecerá;

Porque, em parte, sentimos, e em parte, expressamos,

E isso não se vende.

Quando eu era menino,

Falava como menino,

Sentia como menino,

Discorria como menino,

Mas, logo que cheguei a ser homem, carreguei a sensibilidade de menino comigo.

Agora, pois, permanece a Arte: única, intacta e absoluta: escondida no breu da minha cidade.

Breno Leal
Enviado por Breno Leal em 14/04/2014
Código do texto: T4768607
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