Carta para os Coríntios
Ainda que eu falasse as línguas dos gregos e romanos e não desse à Arte o seu valor,
Não haveria A, muito menos Ômega.
E ainda que eu adquirisse toda a erudição e toda a ciência
De maneira tal que deslocasse homens para o espaço e não desse à Arte o seu valor,
De nada valeria.
E ainda que eu distribuísse meus bens para toda a sociedade a ponto de me tornar um mártir e não desse à Arte o seu valor,
Que humanidade teria?
A Arte é um combate consigo mesma;
A Arte contribui para um bem;
A Arte não plagia, revisita;
Sabe ser indecente da forma certa;
A Arte não é produto mercantilista;
A Arte choca, recria o Pensamento e a Verdade.
Tudo é rima, tudo é som, tudo é tom, tudo é ação.
A Arte nunca falha,
Mas havendo comércio, será aniquilada;
Havendo fábricas, cessará;
Havendo mídia, desaparecerá;
Porque, em parte, sentimos, e em parte, expressamos,
E isso não se vende.
Quando eu era menino,
Falava como menino,
Sentia como menino,
Discorria como menino,
Mas, logo que cheguei a ser homem, carreguei a sensibilidade de menino comigo.
Agora, pois, permanece a Arte: única, intacta e absoluta: escondida no breu da minha cidade.