Nós no Tempo

Tempo houve em que se buscou o Futuro,

inventou-se, inovou-se, liberou-se e Iluminou-se o Escuro.

Bons tempos aqueles, dizem os saudosistas.

Bons tempos, concordam os Iluministas.

E eis que o Futuro é chegado.

Mas, não se sabe o porquê, não trouxe o esperado.

Destarte, conforme Descartes, urge que seja estudado:

visto, revisto, esquadrinhado. Milimetricamente analisado.

Porém, findo o "Rigoroso Inquérito" do Doutor Delegado,

soube-se apenas o que já se sabia: é a marcha do soldado.

Aliás, agora se chama "Atitude", e mortos estão o Solidarismo,

a História e o "terrivel" Comunismo. Talvez, até o Racionalismo.

Mas, nem tudo pereceu. Restou vigoroso o deus do Consumismo.

Todavia, por covardia, por picardia e, triste, por ironia

não se pode consumir o que mais se queria.

"O tempo não volta", pois é amigo, é como eu dizia. . .

O Presente não nos interessa. Sabemos-lo vazio. Pobre Caraminguá.

O novo Futuro ainda demora. Nem se sabe se virá.

O que queremos, sofregamente, é o retorno dos tempos idos;

homens e mulheres anseiam para reaver seus dias já vividos.

E hajam cremes, dietas, vigores azuis, curtos vestidos . . .

Tantas coisas, Cristo meu. O diabo é que os resultados são invertidos.

Somos viúvos de nossos jovens anos. Viúvos de corações partidos.

Saudosos dos tempos em que eramos queridos . . .

Temos saudade do que fomos no Passado.

Queremos, a qualquer preço, re-comprar o que antes nos era dado.

Mas é inútil. Este "Shopping" está fechado.