Um Poema para Deus, seja ele quem for.
Meu Deus,
para onde foram as palavras?
para onde foi tudo o que sentia e que me mantinha acordado,
rastejando pela cama,
como um caracol com a casca partida.
Meu Deus,
já não sei onde procurá-las.
Talvez as tenha jogado no lixo, junto com o último lote de latas de cerveja.
Talvez tenham ficado no meio das pernas da última mulher que tive comigo, por mais que isto me pareça pouco provável, já que já faz algum tempo que eu não vejo ninguém.
Talvez minha cadela as tenha comido. Talvez eu tenha as desperdiçado,
em meus artigos acadêmicos.
São quase três da madrugada, e eu sinto que perdi também a hora de dormir.
Será que perdi também aquela mulher,
que virava as noites me escrevendo textos confusos e apaixonados sobre amor e desejo?...
Com toda aquela paixão,
aquela confusão de sentidos,
aquela escrita acelerada e tão intensa.
Devo ter perdido as palavras,
quando ela se foi.
Meu Deus,
não posso me dar ao luxo de perder tantas coisas importantes.
Peço que o Senhor me responda esse poema,
que é quase uma carta,
já que não sei fazer orações.
Peço que me mande pela manhã minhas palavras de volta.
Com carinho,
Rômulo Moraes Filho.