TRAPEZISTA DE ASFALTO
(*)
Imagino os papelões,
Imagino a noite fria,
O medo e a solidão nos corações,
O cheiro de cola e a barriga vazia...
Dor e prisão rondam as esquinas
Ceifando a liberdade de crescer,
Negando oportunidade a meninos e meninas,
Fingida alegria, nódoas de sobreviver...
Imagino as camas, as quadras, as lamas
As damas sem sapatos, as ladras
A falta de educação, costumes e tramas...
Imagino a bailarina de rua
E o trapezista de asfalto,
Alguns trepando na lua,
Outros dançando no assalto.
Imagino a vontade de ter
E não ter nada a não ser a vontade.
Imagino o passo, dois passos, o nada faço,
A distância da verdade,
A vaidade que nem pode existir...
O sono sob o cobertor
E a cabeça sobre o travesseiro de pedra.
Imagino pai, mãe e um carinho que inexiste.
Imagino na rua, um dia talvez, o amor.
(intertexto com vários poemas de Kathleen Lessa)
Walterbrios
SSABA, 25 de novembro de 2005
(*) Walter BRios faleceu em 18/7/20013.
Desde então sua escrivaninha é atualizada e administrada por mim,
com anuência da família do poeta.
Kathleen Lessa