VERSOS MAQUIAVÉRSICOS
O que me assusta?
Não só os fins, não só os meios...
Mas a intenção sempre escondida!
A nobre causa tão oprimida,
Os devaneios.
Tanta verdade ocultada
A pauta toda loteada!
Aos entreveros.
O que me assusta?
O chão sagrado ressequido
O lixo mal distribuído,
Arruaceiro...
Os vertedouros esvaziados
Silêncio fúnebre do riacho,
E os aguaceiros...
O copo d'água renegado
Às sedes insípidas, ao ocaso!
Do mundo inteiro.
A meia gota disputada
Só na tribuna relembrada
Em falso meio.
O pão de trigo tão suado!
Em meio ao circo sobre-erguido...
Aos picadeiros!
A fala mansa, sorridente
O ato nada convincente
De aventureiro.
A dor que punge amordaçada
A voz que grita embargada
Ao verso inteiro.
A vocação dissimulada...
A mão nascida malfadada
Ao torpe fim, a qualquer meio.
Nem só os fins, nem só os meios!
O que me assusta é o todo inteiro
De lobo arbutre hospedeiro
Tão sorrateiro.
Um susto ilícito, fora do meio!
Dum coração que busca um rumo
Alvissareiro.
O que me assusta:
Migalhas cruas às carcaças
Na tela tão surrealizada...
Quanta desgraça!
Os mesmos fins, aos mesmos meios:
Num universo de meios versos,
"Maquiavérsicos"!
Só de entremeios...