VIÚVOS

para os amores apagados tragicamente

mulher minha,

por quê me choras tanto agora?...

Eu, ao teu lado,

— tão presente —

ouvi tua voz dizendo tão baixinho

que amas como antigamente,

em calma profunda,

sem os agitos das cidades grandes

que desesperadamente, antes do teu choro,

procurou um cantinho para nos abrigar.

mulher minha,

por quê choras agora tanta falta?...

eu, ao teu lado,

— sem notícias —

procuro-me, feito desesperado,

nos papéis queimados

tão bem guardados

pelas gavetas frias desta cidade insana,

pequena, grande, desumana, sem tamanho,

a acomodar homens, cadáveres, pombos e ratos,

despreocupada em velar essa tua lágrima tanta!

mulher minha,

por quê tanto te espantas?...

Estou em solidão e nu

— assim como nasci —

desculpe-me se tento, em vão,

fazer-te rir.

Estou bem aqui, do outro lado,

em paz com a violência que me tirou de ti

perdoando os tiros, as balas infelizes

que mataram um grande amor.