RECORDAÇÕES DO BARQUEIRO
Tião nasceu e viveu
Lá no Rio Uruguai
Sustentou os filhos seus
Das águas, como seu pai.
Foi balseiro, fez viagens
De madeiras catarinas
Navegando outras paragens
Até chegar na Argentina.
Da pequena Goio-En partia
Enfrentando as águas bravas
Vencendo as grandes porfias,
Que o rio lhe apresentava.
Conhecia do rio seus segredos,
Como a palma de sua mão.
Das corredeiras e rochedos
Fez-se amigo e irmão.
Mesmo com calor danado,
Forte chuva ou muito frio
Ia em frente, obstinado,
Navegando o velho rio.
Mas o progresso chegou
E as balsas estão paradas,
O balseiro aposentou,
Madeira vai nas estradas.
À beira do rio sentado
Recorda suas aventuras.
Hoje triste e aposentado
Enfrentando mil amarguras.
Quem deu tanto progresso
À economia regional
Agora está empobrecido
Só restou o Funrural.
Mas a esperança não morre
De ver o que um dia viu,
Mal amanhece, ele corre
E volta a olhar o rio.
Aquele que lhe deu lida,
Casa, fama, o próprio pão,
Hoje é mais que sua vida
É encanto e sua oração.
*Homenagem aos valentes catarinenses que transportavam madeira através de “balsas”, pelo Rio Uruguai, para a Argentina, a partir de Goio-En (distrito de Chapecó/SC) e de outras localidades ribeirinhas.