AMIGOS ANTIGOS, VELHOS NAMORADOS

invadi teu abraço

até sentir-me guardado

na paz que mora em ti.

Quando, feridos de passado,

éramos os mesmos ou

— até outros —

inseparáveis fingindo-nos de amigos

carimbados por tanta identidade;

e, quando o beijo engravidava,

preferíamos o silêncio,

que faz falta aos cinemas mesmo com pipocas nos fins-de-tarde,

até desapercebermos que a mão da ausência pesa muito

a cada toque desarrumando por um carinho não feito.

Invadi teu abraço o mais que pude,

só então percebi quão infantil-homem fui:

por mais que usasse calça desde pequeno,

por mais que abusasse da barba e do bigode,

por mais que fingisse a mais adulta das posturas.

Depois de invadir

tantos e quase todos teus abraços,

— enquanto pude —

senti, inteira, a arquitetura do teu corpo

nos querendo mais adultos

até acriançarmo-nos e adormecemo-nos!

Ninado pelo acalanto silencioso dos teus bons-dias,

senti-me morador nos teus abraços invadidos,

enquanto, tarde da noite, a paz regride

envelhecida pelo teu pôr-do-sol.