CONTRA-SOLUÇO

medrei,

quando senti um susto,

apressado, vir em minha direção.

Preguei, na testa,

uma fita quase vermelha

— cor de Iansã —

combinando com a lividez da minha pele,

na certeza absoluta de que o soluço passaria...

medrei muito,

quando me vi sozinho dentro de um quarto,

onde, nem janelas nem tramelas, colocariam as portas pro ar.

Medrei, me caguei todinho,

as assistir, fora ou dentro, a tela se abrir

para a cena dos canastrões atores de cinema;

a existência do beijo irreal, entre eles, era tão inverossímil

que as minhas mais ridículas medrações tornar-se-iam imperceptíveis:

medrei no escuro com fantasmas,

medrei comer após ter muito vomitado,

medrei beijar mesmo quando vitimado de raiva...

E para que nenhum medo mais persista,

não medrem sentir amor,

mesmo que os sustos apareçam na fita,

mesmo quando impossível seja a concordância inevitável do encontro

noite após noite, dia após dia, qual o choro dos recém-nascidos.

Silêncio! Deixa a vida seguir quieta, a dois!

Abram os braços ao novo

— sem medrismos —

e deixem o dia chagar magérrimo,

apesar do sol-menino em esconde-esconde.