Mancha Brasileira

Filhos da terra da chama viva

em vidas vazias esvairadas

a pele vermelha da raça nativa

pelo sacrilégio em sangue sacrificada

O nascimento de um novo mundo

o final de uma história sem um ponto

me corrija se ao acaso me confundo

a sujeira já me deixa tanto tonto

Uma mancha de milhões de almas

de mentiras e histórias mal contadas

que ao pobre se afere a densa clava

e aos ricos um carinho de mãe dada

Já disse um sábio homem uma vez

ou sou eu que digo agora, tanto faz

ao matar um homem um assassino fez

mate milhares e será herói de paz

Mas não o faça, não é que digo

as palavras de um poeta são um texto

abra os olhos e se faça digno

e verás como filósofo o seu contexto

E da mancha que suja o livro à estante

que posso eu fazer se preso aqui estou

a questão é que outro livro é do restante

de outra mancha que em vidas perdurou

Esta noite minha musa está sozinha

por estar sujo e indigno de tal presença

sentei-me em minha escrivaninha

alimentando minha rara crença

E com olhar umedecido, orei

ao pai, ao filho e as estrelas

me perguntando se do mundo deixarei

páginas ainda sujas, tão vermelhas

Do sofá para cadeira

da cadeira para cama

já levaram à madeira

e separou os que se ama

Dois pombos mortos no portão

ou na gaiola da empregada

já duvido da esperança, ou não

já não duvido mais de nada

Em sangue o livro nos manchou

o livro nos manchou a alma

a liberdade a cigana entoou

quando de mim leu ela a palma

Livre de um país, de seu futuro

liberto da escravidão humana

não como de um outro quebra o muro

mas de como ao fim a alma plana

Aleph Maia
Enviado por Aleph Maia em 06/04/2014
Reeditado em 06/04/2014
Código do texto: T4757986
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