Mancha Brasileira
Filhos da terra da chama viva
em vidas vazias esvairadas
a pele vermelha da raça nativa
pelo sacrilégio em sangue sacrificada
O nascimento de um novo mundo
o final de uma história sem um ponto
me corrija se ao acaso me confundo
a sujeira já me deixa tanto tonto
Uma mancha de milhões de almas
de mentiras e histórias mal contadas
que ao pobre se afere a densa clava
e aos ricos um carinho de mãe dada
Já disse um sábio homem uma vez
ou sou eu que digo agora, tanto faz
ao matar um homem um assassino fez
mate milhares e será herói de paz
Mas não o faça, não é que digo
as palavras de um poeta são um texto
abra os olhos e se faça digno
e verás como filósofo o seu contexto
E da mancha que suja o livro à estante
que posso eu fazer se preso aqui estou
a questão é que outro livro é do restante
de outra mancha que em vidas perdurou
Esta noite minha musa está sozinha
por estar sujo e indigno de tal presença
sentei-me em minha escrivaninha
alimentando minha rara crença
E com olhar umedecido, orei
ao pai, ao filho e as estrelas
me perguntando se do mundo deixarei
páginas ainda sujas, tão vermelhas
Do sofá para cadeira
da cadeira para cama
já levaram à madeira
e separou os que se ama
Dois pombos mortos no portão
ou na gaiola da empregada
já duvido da esperança, ou não
já não duvido mais de nada
Em sangue o livro nos manchou
o livro nos manchou a alma
a liberdade a cigana entoou
quando de mim leu ela a palma
Livre de um país, de seu futuro
liberto da escravidão humana
não como de um outro quebra o muro
mas de como ao fim a alma plana