Apenas um cachorro latindo americano
{Poema-Humor}
O artista Belchior não tem o meu nome, nem eu o dele, mas sou seu conterrâneo e ainda posso estar contido nas semelhanças. E aqui estou, pois ainda não desapareci, não abandonei meu carro e nem deixei carnês para serem pagos. Não faço show, mas escrevo poema para afugentar a depressão. Também não substitui a minha mulher e nem refugiei-me para o Uruguai. Então naturalmente, apenas sou um latino rapaz do sul americano, com pelo menos R$ 10,00 (Dez reais) no bolso, mas parecido com um cachorrinho “latidor”, saído do interior, e com alguns parentes que não estão nem ai para a importância de serem importantes, apesar de alguns serem artistas da musicalidade e da literatura.
Mas à essa altura, numa vida diferente, eu trago na leitura, e em cima da cabeça, um rádio antigo que comprei numa feira popular, para colecionar, e para lembrar de quando ouvia uma cação, nesse mesmo rádio, que me fazia chorar só por causa de você. Tudo muda com a razão, e por ser divino e maravilhoso, aprendi a compor, mesmo sem parceria de algum novo ou antigo compositor baiano que pudesse me dizer o que seria proibido ou não, até mesmo de ir ao cinema, e ao escuro dele, beijar sem ninguém ver.
Já ouvi muitas razões e discos com as pessoas. Fiquei correto em meu caminho, suave, livre, de dia e dentro da noite, sem muito papo e sem ferir ninguém. A vida acontece na real e na ficção, tanto que a gente até fica branco. Assim, ficar vivo, é mesmo diferente sem dinheiro no banco. E quando se tem no banco, algumas cédulas e moedas, a arma é sacada no salão e a gente sempre morre a tarde, às 3. Daí, perante às falhas da Lei, tudo é permitido e nada é mais sagrado e nem misterioso.
Preocupe-se, sim, meu amigo! Nessa hora, a vivência fica muda, sem a trilha musical de uma bela canção e comovida feito vida de cachorro vira-lata, tornando-se mais difícil do que ser um compositor ou um cantor desgastado, esquecido, e distante dos Direitos Autorais, muito antes e muito tempo depois de cantar. Aliás, as palavras são navalhas perseguindo nossos compromissos, àqueles compromissos da noite, que por causa de alguém, a gente não pode faltar.