O LIVRO DERRAMA
O livro derrama
suas águas em mim.
E vou navegando
por entre metáforas
em barcos rimados
de estrela e sol
poeira e vento
e flor e lamento,
perfume, jasmim.
E eu sou floresta
de fadas, gnomos,
e também sou mago,
palavra perdida
buscando sentido
na eira da vida.
Aprendo o silêncio
que brota miúdo
em folha de prata
saudade, quem sabe
timbrada na noite
de lua tão fina
qual brisa menina
feito um vento frio
que corta o peito.
E eu sou silêncio,
também solidão
um poema triste
em busca talvez
do amor impossível
sempre a pervagar
na imensidão.
O livro derrama
suas águas em mim.
Então viro rio,
e és o meu mar,
duas solidões
a se completar.
E a vida é o poema
do eterno amor
que busco encontrar.
(José de Castro)