A SONATA INSOLITA

Notas tocadas

parecem

pegadas andantes

em poças salgadas

lá em cima

num prédio

quase vazio

um senhorio

de barba branca

quase mudo

ainda alegre

diz não ser surdo

porque assiste

um tempo diferente

na sua frente

ouvindo

ele viver sozinho

teclas em telas de acorde

pintadas pela morte

do que foi

sua vida aqui

até o fim

papeis de parede

traças parecendo

deleites derramados

devagar

como olhar pro alto

de assalto flutuar

indo ao que se sabe

não tem certo

só um inverno

se sente vibrar

chegando

se amansando

ficando

pra nunca mais voltar

diz o velho

ele nunca desceu

fui eu

quem o servi

pra não parar de ouvir

um lamento

memorial

também a mim senti

esta membrana

solitária

nunca se abre pra

nenhum verão

prefiro com ele chorar

do que não ver

meu passado

tão belo e amado

passar por ali

onde sento agora

pra assistir

o que você veio fazer aqui.

MÚSICA PRA LER : THE DOORS - ALBINONI ADAGIO