Cinquenta anos depois e o retrato de 21 anos de barbárie no Brasil (ou a ditadura)
É camarada, quem diria
Cinquenta anos se lamenta nesse dia
E que bela ironia, no dia da mentira
Maldito para sempre será o 1º d’Abril – é tudo verdade, Brasil
E tudo começou com um plano de dominação
Do imperialismo e da vil oposição
E culminou com a derrubada de um presidente
Presidente esse que só queria reformar o país
Acabar com a senzala que ainda vigora
Dar a igualdade, no campo e na cidade
Dar terra àqueles que não tinham propriedade
Tirar o excesso dos ricos e distribuir aos pobres
Queria apenas desenvolver o Brasil
E os reacionários queriam tomar para si o país
E num golpe veio a derrocada
O presidente não resistiu a mais uma alvorada
E os militares – “os salvadores da pátria”
Vieram para nos livrar do (sic) vil comunismo
E ergueram uma [falsa] bandeira de patriotismo
Financiado e auxiliado pelo capital yankee
Prometeram as mil maravilhas
A retomada da economia
E a todos, a sonhada prosperidade
Mas após o golpe o que houve foi a desigualdade
E a injustiça – ora, general, mas que malícia
E depois caçaram o seu maior estandarte
Malditos – usurparam nossa liberdade!
Instituíram a famigerada censura
Limitaram a nossa tão rica cultura
Mas os artistas, seres arrojados
Mandavam a mensagem por trocas no palavreado
E reprimiram o movimento estudantil
Quem diria, interferiram no futuro do Brasil
E interferiam violentamente nos sindicatos
“Prendam todos esses mentecaptos”
O povo já não mais podia se manifestar
E a toda ordem estúpida deveria acatar
E também não poderiam se reunir
“Assim não poderão reagir”
Mas após todas as intempéries veio a reação
A guerrilha de heróis veio libertar a nação
Contudo o regime o não se calou
“Combata todo ser que se rebelou”
E assim o governo prendeu os presos políticos
Numa cela insalubre os jogou
E a base de tortura os julgou
E muitos prisioneiros morreram torturados
Os que foram libertados, pobres exilados...
“Entretanto, para o povo há boas notícias
O milagre econômico” - foi uma das (im)perícias
Ora, general, mas que bela piada!
O milagre econômico, na realidade – não fora nada!
E depois veio a grande crise econômica de 73
Que acabou com os devaneios do burguês
E tornou insustentável
Um regime antidemocrático insuportável
“Vamos fazer uma transição”
Mas, general, lenta e demorada?
“Essa é a nossa missão”
Hibernar toda a armada
Os anos passaram
As crises continuaram
As mentiras não acabavam
“Mas os exilados voltavam”
Ora, general, que generosa anistia!
Que protege os torturadores e assassinos
De serem responsabilizados
Pelo vil genocídio
Opositores no exterior, inclusive ex-presidentes
Eram mortos pela operação condor
Jornalistas no Brasil
“Suicidavam-se” em suas celas
Esse é o país que não passava nas novelas
Após 20 anos o povo se levantou
“Ei, milicos, eu quero votar!”
Mas a emenda foi derrubada
“Claro, o jugo assim mandava”
Findado 21 anos
O colégio eleitoral elegia
Um civil – urra! – novamente governaria
Tendo por vice um amigo do militar
Mas o inverno (d’alma) chegou
E a vida do nosso querido presidente tomou
Quem assumiria a presidência?
O amigo dos militares – “eis a cara da divergência”
E assim o Brasil foi levando
Tentando novamente se erguer
Mas o passado recente ia voltando
E as consequências o povo inda iria viver
A economia em frangalhos
Graças aos militares
As os pilares da democracia condenados
Graças aos milicos
Como existiria democracia
Num país que há pouco se erguia
E seu caminho natural seguiria
Levando consigo os vermos do outro dia
Que como um cão, se recusa a largar d’osso
Seu órgão de repressão continuava a atuar
Na periferia e nas favelas – lá ia trabalhar [matar]
Para impedir que o oprimido se insurgisse
Contra o opressor e igualdade exigisse
E o povo educado daquela época
Instruído para burro ser, não consegue entender
Sua condição de dominado intelectual
Vociferando impropérios sem igual
A pobreza só aumentou
E, por conseguinte, a violência também
A desigualdade eclodiu
E hoje o pobre pouco (ou nada) tem
E agora, ficamos todos pensando
Como reverter 21 anos de atraso
Pergunta essa que passados meio século
Não encontrou na prática ainda um resultado
Mas na data de hoje, o militar só quer comemorar
Parabéns, abestado, com o país que você orgulha de ter ajudado
A fundar em 1889, nasceu a nossa República
Mas, quando retomaram, transformaram-na numa maltratada prostituta
Que infelicidade que o maldito regime gerou
Famílias com filhos assassinados, depois de torturados, criou
E inúmeros desaparecidos, mães sem saberem onde estão os (corpos dos) seus filhos
Esse é o resultado do Brasil hoje em dia
Em decorrência da ditadura – que transformou a vida numa loucura