ADORNO
Remendar um discurso antigo
não garante ao poema o frescor da nova idade.
Costurar no envelhecido novo amor
é repetir versos, os primeiros erros.
Que sabes errando, insistindo
amar amando, amar errando?
Os últimos erros,
como versos no papel ainda molhados do alcance da pena,
ao novo poema pertencem.
Bem vinda é a chuva mansa,
a chuva mansa e fina como o lençol
porque na cama a marca do teu corpo
reclama mais um pouco de nós dois.
Mas o que sabe a chuva dos erros de ser e não ter-te perto
se cai desprendida sem par no chão que a recebe calado
naquela mesma umidade deformada da poesia em erosão?
Se alongo a essa altura o curso do poema
na espera do teu abraço e com isso afasto
com a mão esse mal tempo, seus males e as previsões
é porque na rima perfeita teus braços envolvem minha cintura.
Antônio B.