A CIDADE CHAMA POR MIM
José António Gonçalves
A cidade chamava pelo meu nome e a noite ouvia
e alguma coisa ofegava dentro de mim nas calçadas
de pedra nua e cinza como a alma dos vulcões extintos
Não tenho a certeza se o meu nome era o da cidade
que me chamava alertando-me para o apelo das ribeiras
no canto vigoroso das invernias ensaiado entre as penedias
O que sei é que o meu nome estava escrito nos telhados
e escorria até ao chão como um verme vivo e ondulante
caminhando em direcção às luzes na busca do seu dono
E o nome crescia como o coração dos planetas junto do sol
ensaiando outros passos estabelecendo ritmos cobrindo
as sombras escondidas sob as ombreiras das portas fechadas
Só poderia ser o meu nome o do chamado da cidade e a noite
era minha pertencia-me e a mais ninguém e nascia dentro de mim
e o chamado tornou-se tão irresistível que esqueci donde vim
JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES
(inédito.24.2.04)