MEU VERSO/Mario Roberto Guimarães & MEU POEMA/Maria Thereza Neves
MEU VERSO
Mario Roberto Guimarães
Escrevo em meio a um quase silêncio,
Não fora o insistente martelar que ouço,
Vindo da casa em obras, aqui tão perto...
Tento, de um poema, construir o arcabouço,
Que é também obra, embora haja quem pense o
Contrário, pois a poesia, nem sempre é vista
Com adequados olhos, que lhe queiram dar valor,
Mas relegada, por muitos, a um plano inferior,
Como fosse o poeta um inútil, ou quase vigarista...
Mas, se me legou o fado, do versejar a sina,
Não hei de, um só instante, atirá-la ao ostracismo,
Para fugir, assim, à indiferença pública, ladina
Forma de menosprezo a tudo que não pareça ao mundo
Ser importante, ou não mereça, de atenção, um segundo...
Meu verso segue, tão insistente quanto o martelo ensina.
&
MEU POEMA
Maria Thereza Neves
sem crepúsculo, mergulho na noite densa
nem uma estrela se opõe
ao néon dos postes
nem as palavras do poeta mudo no mundo
e o verso triste a escorrer dos vidros da janela
o silêncio em silêncio me agoniza
invento a dor que pressinto
um verso de um canto avesso ao teu canto
até que um dia a emoção rompa as cortinas
varo as madrugadas no sentido dos ventos
mendiga sou abrigo de mim
onde a chuva entorna mágoas
deslizando lentamente nas calçadas
se no céu o sol brilha inscrevo a vida
tentando encontrar a perfeita rima
das minhas mãos de amor vazias
longe é um lugar que ainda existe quase um poema
bem acima do horizonte
bem perto do natal ...
4/5/07