Se eu quisesse fugir...
Descerraria meus portões para aguardar os vultos,
guardiões do meu passar.
Carregaria o mar, escurecendo o sol,
ocultando a lua, apagaria estrelas
e levaria no peito, no vento da alma,
os sons dos passarinhos.
Cessariam as notas de todas as melodias
e o vazio cairia sobre mim.
Deixaria emudecer a minha voz,
partiria sem o brilho no olhar,
o amargo invadiria minha boca
por entre as ruínas do meu jeito de sonhar.
Mas se eu pudesse fugir,
como iriam revoar as gaivotas sem o mar,
sem o calor solar sobre suas asas?
Se escurecessem as estrelas, ficasse a noite sem luar?
E a brisa das madrugadas estagnada,
o dia sem querer nascer,
os vôos dos passarinhos sem entoar acordes celestiais?
Se eu calasse minha voz,
se meus olhos não refletissem outro olhar,
andarilha perdida sem o doce de um sonho,
não ouviria alguma música,
tudo seriam sombras na viagem sem voltar.
Se eu quisesse fugir, não poderia...
Fugir de mim seria fugir sem coração
e sem a esperança que me faz amar.
Se eu quisesse fugir, não poderia...
Fugiria de mim, sem ser e sem lutar.
Sem vencer e sem sequer tentar...