HOMONÍMICO

Há comodidade em ser multidão,

na desculpa de ser invariavelmente outro.

Tudo são eus que comem, que gesticulam,

que projetam, que rezam, que sofrem,

fazendo do laguinho morto da heteronímia

uma impossível tormenta,

transformando em naus

barquinhos de jornal

e afundando-os na cabeça para ser Napoleão...

Na centopeia do ser

se espreguiçam pernas em excesso

e nervos em falta

(centopeias tem coração?).

Chovem afagos para os eus

que nunca têm culpa,

qual ácidas lágrimas

chovidas de nebulosos eus místicos

e incognoscíveis

a transbordar os leitos

dos eus deuses e esquecidos.

Para desembocar em que ralo,

alimentar que poça d'água?

Para conquistar a Europa no quintal?

Ser déspota obscurecido,

almirante louco?

Mais íntegro ser um só,

homonímico.

Não neurótico.

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Luis Filho
Enviado por Luis Filho em 24/03/2014
Código do texto: T4741391
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